As bactérias são criaturinhas danadas... se mentem em praticamente em tudo e em todos os lugares! Aquela fragrância estranha que aparece depois de
uma chuvarada, especialmente nas áreas rurais, é causada por ... adivinha? Isso mesmo, uma bactéria.
Parece esquisito, mas é isso mesmo: quando as primeiras gotas de chuva atingem
o chão, a camada superficial do solo fica toda bagunçada. Com o impacto dos
pingos d’água, as partículas que
repousam na faixa externa de terra são impulsionadas para o ar e se misturam
com o vapor em suspensão, gerando uma espécie de spray úmido. Além de gotículas
de água, esse spray também contém minúsculos grãos de terra e colônias
de Streptomyces, um gênero de
bactéria que cresce naturalmente no solo com umidade. Nas épocas de seca, a Streptomyces entra em uma espécie de
hibernação, que os cientistas chamam de estado de latência. "Nessa fase, a
bactéria continua viva, mas não se reproduz porque não há umidade
suficiente", afirma o engenheiro agrônomo Miguel Angelo Maniero, da
Universidade Federal de São Carlos (Ufscar).
Tudo muda quando chega a chuva: a água ativa a
capacidade reprodutiva da Streptomyces,
fazendo com que ela libere no ar milhares de células reprodutoras, chamadas de
esporos. Além de gerar novos seres, o processo de reprodução faz com que os
esporos exalem o característico odor da chuva. "O curioso é que os
cientistas perceberam esse fato quando estudavam a bactéria em laboratório.
Analisando as culturas de Streptomyces,
os pesquisadores notaram que as lâminas com colônias tinham um odor igualzinho
ao do solo depois de uma tempestade", diz Miguel. Vale lembrar que a Streptomyces não faz mal nenhum à saúde
humana - na verdade, o que ocorre é justamente o contrário: muitas das espécies
desse gênero servem como matéria-prima para a fabricação de antibióticos. O nome da substância
que exala o odor é geosmina, literalmente cheiro de terra. Um dos
propósitos que se imagina que ela tenha é o de controle de inimigos,
matando concorrentes que atrasam o crescimento destes microrganismos. Por isso
mesmo seria liberada pouco antes de chover, de maneira que a água a espalhe junto
de outras substâncias com a mesma finalidade. Esta mesma geosmina produzida por
algas marinhas pode se acumular nos tecidos de vários peixes, dando aquele
gosto de terra na carne. Como ela não é levada facilmente pela água, não
adianta lavar a carne que não sai. Produzida por bactérias de solo, pode se
acumular em beterrabas e no vinho, onde também dá o mesmo gosto. Uma das
maneiras de eliminar o sabor de terra de vegetais e carnes é usar vinagre, já
que o pH ácido degrada rapidamente a geosmina.
Curiosamente, por mais que o cheiro de chuva seja
atraente para nós, pode ser muito mais essencial para os camelos. Camelos devem
saber localizar água a quilômetros de distância pela geosmina liberada por
bactérias que crescem no solo úmido de oásis, e ao beberem a água ajudam a
dispersar seus esporos para outros locais, perpetuando uma simbiose.
Mais certa do que a atração dos camelos pelo cheiro
da geosmina é o apelo que ela tem para insetos. Se nós já associamos umidade e
chuva a esse cheiro, imagine o efeito que ele tem em regiões desérticas. Tão
grande que alguns cactos que têm flores diurnas – as noturnas geralmente são
polinizadas por morcegos – produzem geosmina para atrair insetos
polinizadores, usando o cheiro de umidade para enganá-los.
Texto adaptado e modificado de: Mundo Estranho e Rainha Vermelha
Nenhum comentário:
Postar um comentário